domingo, 20 de julho de 2014

A guerra política contra Dilma >> O medo dos setores conservadores que a população brasileira continue melhorando de vida.


A ordem unida soou há tempos e está superativa: desconstruir Dilma Rousseff, impor-lhe a derrota, a que preço for. O trabalho da mídia e da oposição, somada até com a suspeita ajuda de Eduardo Campos, lembra Gil Vicente com suas cantigas de maldizer,  

“aquelas que fazem os trobadores [...] descubertamente; e em elas entram palavras que querem dizer mal e nom [devem] haver outro entendimento senom aquele que querem dizer chãamente”.

O terrorismo econômico é cotidiano na mídia com uma blindagem anti-Dilma e pró oposição – o exemplo de Alckmin e a crise do abastecimento de água é gritante. A maldição da organização da Copa não se comprovou, e a mídia recolhe o que cuspiu para cima. O pessimismo promovido pelos empresários e rentistas se reflete nas pesquisas de modo claramente contraditório: o pesquisado não teme o seu desemprego e o de seu entorno, mas registra um clima “geral” de preocupação. 

O maior sinal da guerra política está no comportamento dos “agentes econômicos”. Dilma cai nas pesquisas, a Bolsa sobre em São Paulo. O Ibovespa teve ganho de 2,47%, para 57.012 pontos – a mais alta pontuação desde 14 de março do ano passado. Isso se deveu às ações das estatais: as da Petrobras subiram alta de 4,91%, Banco do Brasil, 2,65%, e da Eletrobras, mais negociados, ganharam 6,2%. Quer dizer, o resultado agradou ao “mercado”. Um escárnio, ainda lembrando Gil Vicente, “cantigas aquelas que os trobadores fazem querendo dizer mal d´alguém em elas, e dizem-lho per palavras cubertas que hajam dous entendimentos pera lhe-lo nom entenderem… ligeiramente; e estas palavras chamam os clérigos hequivocatio”. Só falta subirem também as ações da Sabesp que promoveu o desinvestimento no abastecimento de água em São Paulo.

Quanto à crise em que navega o mundo, é tratada como abstração. Medidas de matriz econômica inovadoras implantadas por Dilma são demonizadas. Boa parte do empresariado, não apenas do setor financeiro, se descolam dos interesses do desenvolvimento nacional, após terem sido contemplados com várias medidas indispensáveis para sobreviver e se afirmar produtivamente. Adiam ou bloqueiam os investimentos, tangidos pelo “pessimismo” produzido, ao invés de enfrentar as novas condições mundiais num país de clara vocação e potencial pela sua afirmação autônoma. Buscam os aportes do governo mas querem impor-lhe a derrota, pensando ganhar mais com as lides financeiras.


Quanto àquele, o setor financeiro, já não tem rebuços: capitaneia abertamente a volta ao passado, representados por Aécio Neves. Arrocho do tripé macro-econômico para produzir alguma recessão, diminuir o emprego e a renda do trabalho, para um “ajuste” fiscal rigoroso que permitiria “engatar o Brasil nas cadeias globais capitaneadas pela recuperação econômica norte-americana”. Com a blindagem alcançada, imaginam nem ter que dizer abertamente onde vão cortar os gastos – quem sabe na ciência e tecnologia, no Minha Casa, Minha Vida, nos investimentos nas universidades, no Mais Médicos… Tergiversarão e imaginam poder combater à sombra.

Fizeram progressos, essa gente. O Datafolha diz que 47% dos paulistas não votam na presidente de jeito nenhum; significativamente, Haddad rejeitado como ruim e péssimo para 47% dos paulistanos. Num eventual segundo turno, em São Paulo Aécio derrotaria Dilma por 50% a 31%, e mesmo Eduardo Campos (PSB), um desconhecido no Estado, ganharia da presidente por 48% a 32%. Quer dizer, as pesquisas fazem como aquele famoso final dos teoremas, “como queríamos demonstrar”. O mal-estar é fabricado e depois mensurado. Mesmo assim, Dilma lidera as pesquisas.

Por mais 75 dias, sobretudo os primeiros 30 até o início da campanha na TV, isso seguirá sem obstáculos e monoliticamente na mídia. Depois o debate se estabelecerá um pouco mais equilibrado. Os brasileiros querem uma sociedade gerida pelo e para o “mercado” ou para o desenvolvimento de uma nação soberana, democrática e de inclusão social? Querem um um choque de produtividade hoje indispensável – porque exigência e porque se acumularam condições – de caráter regressivo ou progressista? Querem recuar no tempo e nas conquistas ou avançar em seus direitos e na inclusão social? Querem combater a inflação com mísseis do Banco Central na elevação de juros, cortes fiscais com recessão e desemprego, ou enfrentá-la com um choque de oferta de serviços e produtos para os novos patamares de consumo da camada C que ascendeu, e deslindar o nó dos preços monitorados pelo governo? Esses dois componentes, somados ao dos alimentos, respondem por 95% da inflação brasileira, todavia dentro da meta, repita-se.

Dilma tem o melhor programa para esse combate, mas isso não bastará para ganhar a guerra. Sem os dados de 2014, seu governo alcançou em três anos um crescimento médio de 2,1% e inflação 6,1%, dentro da meta neste primeiro governo (no primeiro governo Lula as médias foram, respectivamente, 3,5% e 6,4%, e no primeiro período FHC as médias foram respectivamente: 2,4% e 9,4%). Enfrentou a crise mantendo a renda do trabalho em alta e o emprego, o contrário do que fez a Europa e os EUA. Seu novo programa, recém-apresentado, vai ao encontro da realidade: um novo ciclo de transformações, ancorado em tudo que se conquistou nestes doze anos. Manter o consumo da massa como alavanca, ampliar o investimento público e privado, realizar a atualização da infra-estrutura nacional e enfrentar o grave problema do subinvestimento na reforma urbana.

O Brasil tem plenas condições de seguir adiante e abrir esse novo ciclo. Não bastará o combate no plano econômico, a não ser ligado a um projeto e plano nacional de desenvolvimento, mais amplo, a reformas estruturais corajosas. Sem elas, o Brasil já avançou. Postergá-las não acalma os reacionários e se descola de sua base social amplíssima, a maioria do povo. 

O que o Brasil não tem é uma oposição à altura de defender e representar o interesse maior desta nação de 200 milhões de brasileiros e brasileiras. Malgrado sua força enquanto “sistema” – jamais essa velha palavrinha, tão usada outrora, foi tão atual.

Esse o combate em curso. E ele vai exigir tomada de posição de todos, no debate, nas ruas, em campanha. Acomodar-se ou se esgueirar por objetivos menores, à margem dessa grande via de combate, será fatal. Dilma vencerá com apoio do povo ao  liderar essa proposta com determinação.

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